Um lugar ao sol

Abro uma loja, numa zona boa, com um produto bom, diferente, certamente que vai ter aceitação. Conheço imensa gente, gente essa que serão meus clientes. O meu sonho vai ser realizado. Vou ter o meu negócio. A porta abriu. O que imaginei aconteceu,  os meus amigos tornaram-se meus clientes. Esses clientes passaram a palavra e os amigos desses vieram. Tudo corre bem, o negócio vai de vento em popa. Passam-se dois meses. Tudo continua a correr bem.

Tenho já uma empregada. Novas colecções chegam e o meu facebook conta já com 2.000 fãs. Basta postar uma imagem e voilá, os gostos e os emoticons fazem-me sorrir. E como se não bastasse, essas pessoas ainda vêm à loja com amigos. E compram, meus senhores, as pessoas compram e gostam e eu estou no topo do mundo. Anunciar? Comunicar? Para quê? Tudo me corre bem. Qual investir. Investi a minha vida toda nos amigos e o facebook tornou-se agora mais um dos meus melhores amigos. Amizades 4ever!  E assim vivo, diariamente, a trabalhar no duro, para os meus amigos. 

Depois perguntam-me: quem é o meu público? Eu sorrio, a minha lista de amigos é interminável. E assim me despeço, contente e satisfeita. O futuro que venha. Medo? Não, hoje faturei que se farta. 

Esta história é real. É, aliás, a história de algumas das lojas do comércio tradicional nacional. O desinvestimento no “outro”. Aquele que não é amigo. Aquele que poderá ser tão bom ou melhor cliente que o atual. Aquele que vê a sua loja sem o ver a si, mas aos produtos que tem. Aquele que lhe dá a certeza do futuro. Aquele que não vai por amizade, não foi por amizade, aquele que lhe dá a certeza se o seu negócio está bem definido, e se o futuro lhe reserva sucesso.

Aquele que vê a sua comunicação/anúncio e se interessa pelo que viu. É esse que lhe vai mostrar se a estratégia está bem definida. O amigo? O amigo é amigo de outros e esses outros poderão abrir outras lojas. E acontece que não pode ir a todos os amigos com lojas. E aí, o seu amigo terá de escolher entre ser amigo e comprar com o que se identifica. Aí, o amigo torna-se cliente. E poderá não ser mais o seu.

Mas tudo bem que o amigo pode passar a palavra. Mas se o passa palavra fosse sempre a solução, a estratégia, a única forma de comunicação, não acha que todas as lojas teriam sucesso? Afinal, todos temos amigos, e amigos de amigos.

Fica o conselho: Seja honesto(a) com o seu negócio. Seja razoável. Dê-lhe personalidade e comunique-o. Seja de todos, e não dos amigos. E perceba que o facebook não é caminho, nem a estratégia, nem o método. O facebook é uma forma de comunicação que deverá ser sempre integrada com algo mais.

Porque daqui a um ano, vai conversar com os seus botões, vai lembrar o sucesso dos primeiros seis meses e perguntar o que correu mal. E vai perceber, que depender de muitos é melhor do que depender de poucos. E vai perceber que comunicar sentado numa nuvem cinzenta como está agora vai ser mais complicado do que ter comunicado enquanto estava sentado numa nuvem com céu azul. E que se nessa altura se tivesse preocupado em manter o seu lugar ao sol – à vista de todos – talvez tudo tivesse sido diferente.

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