Senhor doutor tenho uma dor. Mas não sei identificar a razão. Sei que é algures aqui, mas já me apanha esta parte toda, já não sei como começou, a origem, de onde vem. Sei que me dói, que não tenho melhoras, que já tomei aquele, e aquele e mais outro medicamento, mas nada parece resultar. No inicio, depois de o tomar, ainda sinto um alívio, mas depois, à noite, quando me deito, começa outra vez. Já não sei o que fazer.
Começo a ficar paranóico, por isso vim cá.
Muito bem, deixe-me ver onde se queixa. Aqui dói? E ali? E incha? Não? Hum, já alguma vez isto lhe aconteceu? Bem, vamos experimentar estes comprimidos, desconfio que o problema seja falta de cálcio. Se não sentir melhoras passado uma semana, venha cá outra vez. Podemos ter que fazer uns exames.
Eh… Exames…? Olhe… na verdade não tenho muito tempo para isso. Avie-me lá a receita que é capaz de ser falta de cálcio sim.
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No mundo da consultoria, seja em que área for, há uma certa tendência em tratar as dores dos clientes o melhor que se sabe. O que é bom. Mas imaginemos um mundo onde, além de se tratar das dores o melhor que se sabe, trataria-se a dor a partir do que se sabe? Com um estudo, análise, ou uma auditoria, isto é… com o necessário até se chegar ao problema. E depois lá vinha a receita, prescrita com certezas, sem suposições ou cálculos baseados em achómetros.
Não seria um mundo melhor? É que hoje em dia tenho a ligeira impressão que se remedeia demais e soluciona-se menos. Ou seremos todos mágicos?