O que nos move?

O que nos move é a esperança. A secreta esperança de ser mais feliz do que já somos, já fomos, já sentimos. O que nos move é uma ideia. Da mais parva à mais inovadora. O que nos move é saber que não estamos sozinhos. Mesmo que nos sintamos, nunca estaremos se houver imaginação.

O que nos move é a liberdade de pensar. E de nos sabermos úteis. De roubarmos um sorriso, de termos a atenção do outro porque a conquistámos. O que nos move é a família. Pela família. O que nos move é a música, ou um poema, ou um conto, ou um anúncio, ou uma piada, ou uma conversa, ou um momento, ou uma noticia, ou uma frustração, ou um medo, ou um adeus também. O que nos move pode ser na verdade quase tudo, e podem ser os outros também. Têm é de ser coisas que nos movam cá dentro. Só se acontecer dentro de nós é que nos poderá mover, para trás, para a frente, para onde for.

Só que tem havido alguma preguiça. E o que nos move na maior parte dos nossos dias tem sido uma outra coisa – o dinheiro no final do mês. Então temos estado quietos de tudo o resto. Vivemos quietos.
E depois, vem uma campanha publicitária que nos pergunta – em forma de teaser – o que nos move?
E até que é uma boa pergunta porque nos convida a pensar (se formos dos que se preocupam em escutar as marcas).

Só que após o teaser, percebemos que a campanha é de um banco. E por isso sentamo-nos. Especialmente quando vimos que a assinatura da campanha é: BancoCTT, o banco que nos move. E respondemos assertivamente que sim, que o que nos move ultimamente tem sido o dinheiro. E percebemos que esta campanha é só uma marca a dizer-nos para nos continuarmos a mover pelo que está errado. O dinheiro. Mesmo que haja floreados pelo meio. Mesmo que metam palavras como transparência, confiança e outras palavras tais pelo meio.

E não devíamos deixar que um banco/dinheiro nos mova. E também não devia ser uma pergunta para um banco nos fazer. Porque o seu produto é dinheiro. E não devia ser por ele que que nos movemos, não em primeiro lugar.

E ao virem com estas mensagens de comunicação mais nos estupidificam. Mais ainda.
E as marcas – que tem um poder imenso sobre nós mesmo que não tenhamos essa noção – deviam ser tão mais conscientes e eu só pedia um pouco mais de razoabilidade nas suas comunicações.

ps: compreendo perfeitamente o conceito de movimento/mobilidade/acesso/facilidade que o banco CTT quer comunicar na assinatura, pois supostamente têm uma série de serviços mais inovadores e adaptados para o dia a dia dos jovens. E também sei que esta é uma interpretação da campanha muito subjetiva e algo radical, no entanto vejo cada vez mais as marcas a apelarem ao lado emocional  do público (só porque alguém disse que a emoção vende)  sem se preocuparem minimamente com o efeito adormecido que causam à sociedade.

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