Música para os meus ouvidos

O dia vai longo – de trabalho – mas há partilhas necessárias, como que urgentes, e por isso, mesmo que cansada, não há como não fazer uma pausa no tempo e começar a teclar, mesmo que as letras saiam trocadas, as virgulas se autoregulem – à medida dos olhos do leitor, e que as frases se percam a meio.

Quem me conhece sabe o quão gosto-vivo de música. E o quão dependente sou, especialmente, em alturas de maior criatividade/concentração. Hoje, pelo meu feed de notícias, dei por mim a ver um dos videos de música mais espetaculares dos últimos tempos – por uma razão, é pensado/produzido como que um anúncio. Pudera! Foi feito por uma das maiores agências do mundo a – Droga5.

O anúncio, digo video, é um turbilhão de emoções ritmadas por música eletrónica, um dos meus gêneros favoritos. Este, conta a história de uma persona, que tenta mostrar a sua música a outros, mas que é constantemente retraído. Tal como a música eletrónica, que apesar dos muitos fãs pelo mundo inteiro, continua a ser considerada de nicho.

Mas o que me prendeu no video, e é aqui que quero chegar,  é a experiência psicológica que este consegue causar. E o perceber que isto só podia ser feito por uma agência de publicidade, que contando uma história igual a todos, consegue fazer com que cada indivíduo que a vê/ouve faça dela uma história absolutamente diferente e pessoal e que, como tal, se identifique, criando o tal elo de ligação.

E esta foi a minha história: As agências de publicidade, e quem trabalha nelas, são este tipo que está no video. O louco-feliz, o inocente-indecente, o persiste-até-ao-fim, no fundo o tipo que tem nas mãos a diferença, e que é confrontado com o “é muito fora”; “isso é muito arriscado”; e que tem de cair na realidade dos outros à força, porque o cliente receia demasiado para ousar. Ou então, outra situação que é, e é essa que me assusta, o próprio consumidor não ter já ouvidos para o que é diferente. Ou é mais do mesmo, ou não é. Porque o diferente já exige algo mais como – pensar/decidir/admirar/gostar/querer. Estamos demasiado automatizados. Já não gostamos de publicidade porque não a vemos. Se não a vemos não decidimos, decidem por nós. E tornamo-nos seguidores, não decisores.

A publicidade, que eu chamo de publiverdade, é o melhor que as marcas nos podem dar. Dão-nos o poder de decidir. De pesquisar. De pensar. De nos identificarmos. Mas se não a virmos, se não tomarmos as nossas decisões, se estivermos demasiado ligados à corrente, ela não serve para nada. E torna-se inútil. Cabe-nos a nós – consumidores – olhá-la/ouvi-la. Perceber se. Decidir quando. Querer onde. Porque caso contrário, estaremos sempre no quarto escuro. E as nossas decisões, sejam quais forem, não podem ser um simples jogo de sorte ou azar.

E deixo o video. Para se ouvir. Para se ver. Para se perceber.

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