Sou uma pessoa de projetos. Melhor, sou uma pessoa de projetos a longo prazo. Dedico-me mesmo à séria, entrego-me e vivo a coisa praticamente a 100%, faço o que for preciso em prol do tema, e acabo sempre por me envolver muito, mesmo que o projeto não seja meu, mesmo que eu tenha só uma ínfima parte, estou sempre disponível.
Por me saber assim, sou especialmente atenta à parte do antes de entrar no projeto, ou seja, por não ser pessoa de sair do barco com a viagem a meio, quando viajo preciso de ter alguma certeza de que estou na viagem certa e com a bagagem adequada. Essa parte do antes, chamo-a de oportunidade.
As oportunidades são coisas ótimas e num mundo onde cada vez existem menos, há que aproveitá-las. Mas pergunto: será saber aproveitá-las o grande desafio [“havendo poucas, é aproveitar” diz o outro] ?
É que o verdadeiro proveito, aquele que nos enche, só vem depois e até lá é um proveito ilusório, é um “já estou a salivar”. Por isso há que primeiro identificá-la (a oportunidade) e depois, realizá-la.
Posto isto, como saber identificar a oportunidade certa? Aconselho experimentar imaginá-la a longo prazo. Se a conseguir imaginar sólida e com sentido daqui a três anos, sem grandes vírgulas, sem grandes mas e sem grandes “ses” (mesmo que o futuro seja turvo) a oportunidade poderá ser a certa. A partir daí, avançando, é fazer uma coisa: riscar a palavra oportunidade e corrigir para projeto. Uma oportunidade é muito frágil. Projetos são sólidos.
Fazer esta conversão dá a confiança que se precisa para a realizar. Mesmo que mais tarde precise de voltar atrás, não corra atrás de todas as oportunidades – porque elas vão sempre existir – e vai acabar por se cansar. Já os projetos cansarão bem mais, mas têm a substância que o irá alimentar durante o percurso.
É claro que isto não pode ser levado à letra, ou seja não defendo posições 100% extremistas e radicais e sei que às vezes não temos certezas de nada e há que simplesmente deixar-se ir. Mas estou como os senhores dos rótulos dos vinhos, há que saber beber (as incertezas) com moderação. Já uma colega minha – que me conhece de “gingeira” tem uma posição um pouco diferente sobre o assunto e por outras palavras dizia-me ontem: “às vezes não temos de ir logo para casar. às vezes só namorar também é bom”. E eu sorri e disse-lhe: mas tu sabes bem que eu não sou assim.
Por fim, termino com um poema de Fernando Pessoa, que me faz muito sentido nesta coisa dos projetos e tem sido nisto que eu me revejo.
Põe quanto És no Mínimo que Fazes
Teu exagera ou exclui.
Sê todo em cada coisa. Põe quanto és
No mínimo que fazes.
Assim em cada lago a lua toda
Brilha, porque alta vive.